domingo, 24 de maio de 2015

que foda

chega um dia
em que

as borboletas
as nuvens
as escadas
os coelhinhos fofinhos
os leões de pelúcia
as canetas destampadas
as portas descascadas
as poesias
os poetas
as janelas
as favelas
as avenidas
as ave marias
os pôres do sol
os seus nasceres
as sombras
o escuro

e tudo o mais
lembram-me você


fodeu

poema para helena

porque nasceu pequena
e linda como o sol
ganhou o nome helena
fagulha do arrebol

e como é tão vasta
qual os mares do sul
helena só não basta
é helena paraguassu

Coragem

nesta manhã
uma terça-feira gelada
ácida e chuvosa

em que a cidade é uma cidade parada
em que pessoas esquecem-se de pessoas
e praticam amor com a King Co.

meu coração
sabe-se lá por quê
aquece-se
em paixão e coragem

fora daqui
um companheiro sumiu em Mérida
um garoto foi assassinado no Rio de Janeiro
em Brasília direitos trabalhistas serão mandados às favas
em São Paulo um trabalhador haitiano suporta clientes insatisfeitos
em Lima um jovem beninês teme o futuro

mas aqui dentro
sabe-se lá por quê
a despeito do mundo que ocorre
a despeito dos olhos vermelhos sob a chuva
e da fumaça que intoxica homens e mulheres no Morro da Alemoa

meu coração agora
corajosamente
amaria para sempre

sábado, 7 de março de 2015

nota (para ser feliz)

um sorriso
só pra mim

mão no rosto
(não
      no torso)

e um sorriso
e outro

de perto
muito perto

um sorriso
halitoso
de tão perto

um sorriso
dentro

um sorriso
em
     mim

que sorri
por horas

que sorri
sem tempo

que sorri
e sorri

um sorriso
cremoso

que vai
dessorrindo

e larga em mim
(dentro de mim)

um beijo
alegre

sábado, 21 de fevereiro de 2015

poema sozinho

minha tristeza
não tem a beleza de um verso
é o verso da amargura comedida
delicada
melódica

minha tristeza
é a tristeza que desencanta
que cansa quem consola
de tanto consolar

é uma tristeza
de acabar com a libido alheia
é uma tristeza
de desapaixonar gente por mim
é uma tristeza
de desistir de beijar

é estar triste sem cafuné
é estar triste sem ombro amigo
é estar triste sem amigo

não tem lirismo a minha tristeza
ela é triste de verdade
no corpo no sangue na carne

é tanta tristeza
que incomoda
é tanta tristeza
que enche o saco
é tanta tristeza
que esvazia o recinto

e aí
de tão triste
fico sozinho

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