terça-feira, 28 de maio de 2013

poema no. 359

deixo um coração cortado
e me sinto mal
mas que sei fazer senão
cortar corações

alguém está
meio perdido
meio sem norte
meio sem nada
meio desorientado
meio sem saber o que fazer
meio achando-se desencantado
por que cansa achar-se encantado

(ouvindo a vida
com ouvidos sérios
não se tem espaço
para ouvir delicadezas)
(e dizê-las)

(ademais
tudo indo)

poema no. 334 na parede da sala

     O poema no. 334 (leia completo aqui) recebeu uma homenagem de uma amiga muito querida. Apesar de ficar sem graça quando vou à sua casa (ele foi pintado na parece da sala), fico absolutamente lisonjeado.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

poema no. 358

1.
a vida não se abre
como se abre uma janela
(janelas não se abrem)

2.
o que há de mais terno
em você
é seu ódio
(é lindo que você odeie)
pela opressão
pela criminalização da juventude negra e pobre
pelo aparelhamento partidário dos movimentos sociais

seu ódio é o nosso ódio
mas sua carranca
é a sua manifestação
primeira
e justa

3.
é preciso te saber
antes de te gostar
                           te gostar
é um exercício de dolorido gozo
não se te saber pelo verbo
mas pela ação
por teus olhos que ferem
por teus olhos que choram de dor e mágoa do movimento estudantil

mas isso ainda é muito pouco
para te saber
para te saber
é preciso mais que olhar para a sua vida
                                                  (a vida não se abre)
                                                  mais que amar teu ódio e
                                                  mais que te saber agente

te saber é estar ao seu lado
odiando do seu ódio
chorando do seu choro
lutando da sua luta

(a nossa)

Homem de Aço

You're gonna crucify me
     Já foram escritos muitos textos neste Esboço de Blog a respeito da indústria cultural, da cultura de massa, do mercado editorial etc (veja aqui, aqui e aqui). 
     O novo filme do Super-homem se enquadra em mais ou menos tudo isso. É um filme da indústria cultural, feito só pra ter lucro, é um ícone da cultura de massa, e tem suas origens no mercado editorial de quadrinhos, com tudo de podre que ele oferece (veja aqui o que já foi escrito sobre a morte de heróis nas HQ's). Mas acontece que, diferente de outras vezes, eu estou muito ansioso para ver este filme. E por vários motivos.
     Em primeiro lugar, nasci homem, cresci homem e como tal, fui ensinado a gostar de pancadaria. Claro de há alguns anos venho reconfigurando meus gostos. Mas há ainda um ranço nostálgico que me visita por vezes.
    Pelo mesmo motivo, numa pequena fase de minha adolescência eu gostei  bastante de quadrinhos. E não era de Piratas do Tietê, nem de nenhum fanzine do colégio, mas de Super-homem, X-Men e congêneres. Comecei a ler pouco antes de rolar aquela história da morte do Super-homem. História  ridícula, feita pra vender gibi e que deu certo. 
     Em suma, Super-homem se tornou meu personagem favorito. Na verdade parei de lê-lo poucos anos depois de ter começado (um ou dois), mas ficou uma coisa nostálgica que é reflexo do laço da cultura de massa. E apesar de saber de tudo isso, não consigo não ficar ansioso para ver o filme. É como torcer para um clube de futebol apesar de saber de toda a sujeira que envolve o futebol profissional.
     Em parte me alivia saber que consigo distanciar-me de meu prazer adolescente e fazer uma leitura crítica de quê significa o Super-homem para a cultura de massa. Em parte me envergonho de não conseguir me distanciar o bastante para não ir ao cinema alimentar essa máquina de fazer dinheiro às custas do trabalho de muitos e da alienação de milhões. Mas, em parte também sei que fui socializado aqui, não em Marte, e por isso será difícil mesmo libertar-me de alguns hábitos bobos, como ficar acompanhado as notícias do filme de seu herói favorito.

domingo, 19 de maio de 2013

poema no. 357

A Manoel de Barros

ensinou-me pasquale cipro neto
só pra cima se pode subir
por isso
se diz-se
subi pra cima
há uma redundância
um vício de linguagem

mais tarde desensinou-me joaquim pilé
que ele tinha subido pra dentro de si
e visto com os olhos (mas pelo lado de dentro)
como é alto e escuro dentro de si
e depois de tanto subir
acabou no meio do escuro perdido
e não sabia voltar

então gritou alto três vezes uma reza de índio
que tinha aprendido com sua mãe
e já tinha descido pra fora de novo

joaquim pilé me desensinou
que pra fazer poesia
é preciso ser viciado em linguagem

quinta-feira, 9 de maio de 2013

poema no. 356 ou vigília onírica

sei que te vi
e te toquei
e nos tocamos

e se sei
se me sei e te sei
é porque sinto na pele a tua pele
e nas mãos o teu cabelo
e no ouvido esquerdo uma lembrança de tua voz
me dizendo qualquer coisa que não faz sentido agora
mas que fazia porque era a tua voz

sei que senti tua falta
quando te viraste e foste ao quarto ao lado
e eu te chamei e tu respondeste
que não poderia ser mesmo assim
pois a vida nos impede com suas concretudes
e desassombros

eu sei que fiquei triste
sei porque ainda está cá a tristeza
de saber que tua mão e tua voz eram vapor
ou não
ou eu sou vapor
onírico
e ficaste tu
concreta e sólida e fria pra trás

acontece que não sei o que saber
se tua pele tocou minha pele (mas tocou)
se tua voz entrou em mim (mas entrou)
se ficaste para trás (mas ficou)

acontece que não sei se o que sei
soube de fato ou só penso que soube
mas eu soube
quando subi em ti
e seguimos assim por duas quadras
e me disseste
                    para mauricio
e eu parei

acontece que agora
que me sei vivo
que me sei desperto
sei que tua mão e teu cabelo
não são vapor
e não me tocam
embora eu lembre de cada segundo
em que deslizaste por mim

(talvez eu esteja um tanto confuso)



quarta-feira, 8 de maio de 2013

poema no. 355

que difícil que está sendo isso
isso de não se lembrar
isso de resistir a querer
isso de precisar sonhar

é preciso que sonhe
é preciso que olhe
e veja mais que sonho
é preciso que se espere mais que sonhos

porque haverá resistência
e eu esquecerei

e eu não saberei mais dizer
do que fiz
do que fez
do que aconteceu
se é que aconteceu

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