domingo, 4 de novembro de 2012

poema no. 318 ou poema egoísta

eu sei
que a vida ainda é difícil
com as opressões de classe e de gênero e de raça e de

sei que o capital avança sobre nossos direitos
e que pessoas morrem
na calada da noite

sei que a noite
é mais noite na periferia
e que balas cruzam os bairros
e coturnos abrem portas e espaço para
as balas que cruzam os bairros

mas agora
só consigo pensar
em mim e em minha dor

no escuro que se faz em mim
no abismo que se coloca diante de mim
na dó e na pena e na piedade que sinto de mim

e nada tem a ver com minha classe
ou com as opressões
ou com os ataques do capital

tem a ver comigo
e só

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