quarta-feira, 31 de outubro de 2012

poema no. 314


em meu corpo
há os dias
e as horas
e cada segundo
estático
sozinho
em que deixei de viver
e só parei
fiquei parado
junto do segundo
parado

sobre minha pele
e sob ela
cada dobra é a prova
ou a denúncia apenas

mas este é um julgamento parcial

cada dobra é a prova
de meu longo esperar
por algo que não virá a acontecer

se ainda pareço moço
numa primeira análise
é que posso disfarçar as dobras de meu corpo
ou ainda posso rir
(embora risos denunciem pequenas imperfeições)

mas numa análise mais pormenorizada
notarás que minha barriga cresce e só cresce
que em minha barba a cor branca cresce e só cresce
que minhas mãos teimam em
cada vez mais
se parecer com as mãos de meu pai

que minha pele dobra
que meus joelhos dobram
que minhas nádegas dobram
que meu pênis dobra
que meus olhos dobram

sim
meus olhos
os duros e gélidos
os firmes e incisivos
meus olhos
os que não amam e sabem tudo
os meus olhos também se dobram

mas que esperar de olhos e pênis
se não que se dobrem
se não que se deixem encobrir por pele e sonhos
                                               por camadas e mais camadas de epiderme
                                                            e sonhos mortos

meus olhos e meu pênis
cumpriram sua função
e cumprirão no limite o seu destino

dobrar até que eu mesmo não seja mais que uma dobra
um mauricio dobrado
pronto pra ser jogado fora

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