segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Piscator, Brecht e o Teatro Épico

Bertold Brecht
    Piscator, nos anos 1920, tenta fazer do teatro um lugar de questionamento. Com uma visão marxista, pretendia fazer do teatro uma ferramenta de conscientização de classe para o indivíduo. Este teatro, portanto, não privilegiava questões individuais, mas coletivas.
    Contudo, este teatro ainda era um teatro que não dava escolhas ao espectador. Um teatro fechado em que os atos heróicos eram tão somente substituídos pela luta de classes.
    Bertold Brecht, que havia trabalhado com Piscator, vê o problema localizado na forma dramáticaforma dogmática, esquematizada por Aristóteles em sua Arte Poética, que na visão de Brecht leva o espectador à passividade. Através da ilusão, o espectador perde qualquer possibilidade de reflexão crítica.
     Assim, Brecht propõe a forma épicaUm teatro que propõe o pensamento crítico e visões complexas da realidade. O teatro épico busca um texto que flua intermitentemente, a fim de que o espectador não se prenda numa ilusão dramática.
     A direção teatral, igualmente, não deve temer a denúncia dos "truques" teatrais. O teatro não deve se apoiar na ilusão.
     O texto épico não busca verdades imutáveis, mas enfatiza os comportamentos, opiniões e comportamentos dos homens em relação ao seu próximo.
     Dessa forma, o teatro épico procura sempre a contradição e, pra isso, lança mão de um efeito que é essencial na visão brechtiniana do teatro - o estranhamento.
     O que se procura com o estranhamento é distanciar o espectador do objeto de cena, casar-lhe estranheza a fim de desliga-lo da ilusão e causar-lhe o pensamento crítico. Isso é conseguido a partir de um elemento estranho à cena, ao argumento. Elemento inverossímil à ilusão. Como o personagem reconhecer-se irreal e denunciar essa condição ao público. O que de modo geral seria um defeito, do teatro épico é buscado.
     Mais sobre o assunto: O Teatro Épico, de Anatol Rosenfeld. Obra e autor referências sobre o tema.
     Abaixo trecho de O Mendigo ou o Cachorro Morto, de Brecht.


O Mendigo ou o Cachorro Morto (excerto)
Bertold Brecht

Um portão. À direita, sentado, um mendigo, pálido, roupas esfarrapadas. Segura um realejo, escondido na roupa. É de manha, bem cedo. Um tiro de canh

ão soa. Entra o Imperador, cercado de soldados. Seus cabelos são longos e sua cabeça está descoberta. Usa roupa de lã. Os sinos tocam.

IMPERADOR – No momento em que vou celebrar meu triunfo sobre o meu mais importante inimigo, quando o país mistura meu nome com o fumo negro do incenso, há um mendigo sentado diante da minha porta, fedendo a miséria. Mas, com tantos acontecimentos importantes, pode-se conversar sobre o Nada. Os soldados retrocedem. Homem, você sabe por que os sinos dobram? 

MENDIGO – Sim. Meu cachorro morreu. 
IMPERADOr – Isso foi uma insolência? 
MENDIGO – Não. Foi por velhice. Mas agüentou bem. Pensava eu: por que as suas patas tremem? Ele tinha apoiado as da frente no meu peito, e ficamos deitados assim a noite toda, mesmo quando começou a esfriar. Mas, de madrugada, ele já estava morto e eu o afastei de mim. Agora não posso voltar para casa, porque ele está apodrecendo, cheirando mal. 

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