sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Livro sobre Nada

Manoel de Barros não é.
Como não é sua poesia.
Foucault disse, a respeito de Manoel de Barros (sem saber que falava a respeito dele): 
"Ora, ao longo de todo o século XIX e até nossos dias ainda (...) a literatura só existiu em sua autonomia, só se desprendeu de qualquer outra linguagem, por um corte profundo, na medida em que constituiu uma espécie de contradiscurso e remontou assim da função representativa ou significante da linguagem àquele ser bruto esquecido desde o século XVI."
Manoel de Barros atinge com sua (não) poesia o inatingível. O estado de não significância. Qual seja, o estado em que uma coisa apenas é - não representa nada. Não entre ela e o mundo nada que a represente. Nada que a ausente daquilo que ela realmente é -                         .


8.
(In Livro sobre Nada)


Nasci para administrar o à-toa
                                   o em vão
                                   o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
                              de pessoas com rãs
                              de pessoas com pedras
                              etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã 

no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei
também sabedoria mineral.

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